segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O Scholar





Me vi novamente na estrada. Dessa vez para um veículo pequeno, amassado, desbotado. Entrei no automóvel de dois lugares, botei minha maleta no compartimento traseiro e disse ‘Hi’.

O cara era um sujeito de meia idade, já viu dias melhores. Os livros no banco traseiro denunciavam um temperamento fechado, contido. Um scholar. Mas no mais fundo dos profundos olhos verdes, uma selvageria que eu no momento só intuía.

Rodamos por umas duas horas pelas montanhas quase peladas do interior, as casinhas bucólicas, alguns animais. Essa não e a área mais animada do mundo, não?

Ele começa a falar de suas pesquisas, acadêmico, mas logo para, acostumado com as pessoas que rejeitaram por toda vida sua intelectualidade.

Eu não, eu me interesso por tudo, disse. Ele me explica então que estuda as relações sociais entre primatas, mais especificamente os diferentes papeis que a relação sexual tem em cada organização social primata.

' Os saguis, por exemplos, macacos ‘menores’, são totalmente monogâmicos até o fim da vida. Entre os gorilas a relação parece mais a de um sultão com suas consortes. Já os bonobos, meus favoritos, usam o sexo como “lubrificante social”. Pode-se dizer que eles trepam como macacos, e esta é a forma deles se relacionarem.`

`Os chimpanzés, os mais inteligentes dos grandes macacos, são os mais parecidos conosco: são violentos e interesseiros. A relação sexual, além do imperativo maior da reprodução e propagação do gene, tem um caráter de dominação por parte do macho e de “moeda de troca” por parte da fêmea. Ela se sujeita ao domínio de seu macho em troca de alimento e proteção, relação que dura cerca de 7 anos, o tempo que o bebê leva para se tornar independente. Então, a relação acaba.`





´Entre os mamíferos superiores as relações são um pouco diferentes. As hienas, por exemplo, são dominantes na relação a ponto de desenvolver um “proto pênis”. Já os felinos têm relações efêmeras com suas femeas, que por sua vez tem mais independência, poder de escolha e barganha.’



‘Os seres humanos são sua especialidade, não minha. Mas parece que, como animais, partimos de uma premissa muito parecida com a dos outros primatas. O sexo, na nossa sociedade, pode ser monogâmico, pode ser uma forma de interação social, pode ser dominação e interesse. ‘e realmente difícil determinar o que e cultural e o que e biológico. ‘





‘Podemos chegar ã conclusão de que a inteligência do ser humano permite interações bem mais complexas. Nossa inteligência permite a superação do biológico por meio da cultura, e a superação criativa da própria cultura. Constantemente nos reinventamos e nos redirecionamos, socialmente e sexualmente.’





‘Mas somos corpo, e no fim das contas, o animal está sempre lá, à espreita.’






Não consegui argumentar: um buraco na estrada acabou com o pneu, amassou a roda etornou o automóvel inútil. Needless to say, o estepe estava igualmente inutilizado.

Caminhamos pela estrada sem calcada. Felizmente ele conhece a região e sabe que em breve encontraremos uma cidade. Andamos uns quarenta minutos, num silencio confortável. Apreciávamos a companhia um do outro. Ele me apoiava nos trechos mais difíceis e eu aceitava, mais para sentir seu toque quente do que para ser realmente apoiada. A essa altura já estava acostumada com a vida na estrada.

Encontramos então o que posso simplesmente chamar de povoado. Um par de residências, um posto de gasolina/mecânico/lanchonete, um bed&breakfast, umas lojinhas locais. Dificilmente se pode chamar de cidade. Mas a gente aceita o que tem. Ele não parecia perceber o quão simplório era o lugar, e parecia empolgado. Como tem sido meu método, segui o fluxo da vida, sem rigor.

Entramos na lanchonete imundos, imprestáveis. Precisávamos decidir o que fazer. Eu não precisava acompanha-lo na chatíssima função de reparar o pneu, ele diz, mas se quisesse esperar, me levaria ao meu destino quando pudesse. Eu, sem ter pra aonde ir, sem ter hora pra chegar, sem ter quem encontrar, dificilmente argumentaria.





Depois de me refrescar no banheiro e fazer uma refeição eu me sentia pronta para continuar. Mas não, precisaríamos aguardar várias horas pelo reboque e conserto do carro. Estamos no interior, ele lembrou.





A solução era o bed & breakfast. Ainda era cedo, poderíamos passear um pouco pelas belas trilhas em volta do povoado, mas acabamos entrando nos quartos e ouvindo as intermináveis explicações do funcionário do inn sobre aquecedores, chuveiros, interruptores, era um prédio antigo, enfim. Deixei ele lidando com a governança enquanto tomava uma chuveirada. Poderíamos sair logo mais.





Liguei o chuveiro e logo a agua quente me revigorou. Então eu percebi que a ansiedade que eu sentia era vontade de estar com ele, aquele cara esquisito com um lado selvagem contido. Queria faze-lo perder o controle, ver que espécie de animal existia atrás daquela prisão. Decidi dar um sinal.



Desliguei o chuveiro por um segundo. Ouvi que o funcionário do hotel já tinha ido e que a tevê estava ligada. Ótimo, ele teria um ponto de vista perfeito a partir da cama. Entreabri a porta do banheiro. Só isso: um sinal. Se ele entendesse, estava provado que não precisávamos de palavras.



Voltei pra o chuveiro e aguardei, me punindo pela minha sutileza e ao mesmo tempo pela minha ousadia. Um tempo imenso passou e me distrai no banho. Ensaboei meus braços e pernas, evitando os lugares mais sensíveis. Então, sem nenhum som, ele chega, pega a esponja da minha mão e ensaboa meu colo, me abraçando por trás, levemente. Recuo um pouco e sinto o corpo dele firme contra o meu, deito minha cabeça no seu ombro e sinto o cheiro do seu pescoço, forte e doce, surpreendente.


Ele se anima com a minha aprovação e continua o paciente trabalho de me ensaboar e esfregar de acordo com seu desejo. Pacientemente, calculadamente, ensaboa cada pedacinho do meu seio, do meu ventre, da minha coxa, da minha bunda, evitando somente o lugar mais quente, que mais desejava seu toque. Eu sentia seu corpo através da camiseta e do short que ele ainda usava, pudico ou irônico? Senti o pau duro bem na altura da minha bunda, encaixando perfeitamente, louco para entrar. Mas o seu dono ainda trabalhava lentamente. Era um animal tentando sair da jaula ou era uma tortura que ele ficava feliz em infligir? Finalmente ele cedeu e começou a ensaboar minha boceta, que já estava pra lá de excitada, aguardando alguma atenção. Tocou cada lábio, cada curvinha, cada buraquinho. Eu estava tão sensível que parecia poder gozar a qualquer momento. Mas não, ele não permitiria. Ele sentia minhas pernas trêmulas, sentia o efeito que causava em mim. E apesar de sentir o tesão dele nas minhas costas, ele fazia o seu trabalho pacientemente, como o cientista que era, como se eu fosse seu experimento. Então ele chegou onde queria: o rabo. Era essa a sua meta desde o início. Ele ensaboou bem, por trás, e depois largou a esponja e começou e esfregar com os dedos mesmo, ávido. Parando por um segundo, ele me vira e me beija, fico face a face com ele, vejo a selvageria no seu olhar. Um brilho tesudo, felino. Meu cu bem apertadinho foi deixando ele entrar, um dedo, dois dedos, que ele metia e tirava, e mexia lá dentro para me excitar, para me abrir. Parecia saber que aquele rabo não tinha muita experiência, e queria prepara-lo bem.


Eu não conseguia fica mais impassível, obediente. Tirei o pau dele para fora, peguei as bolas e massageei com cuidado. O pau dele era como ele, esguio, altivo, fino e comprido, com a cabeça bem aparente, lindo, peculiar. Peguei aquela cabeça e meti entre os grandes lábios, me masturbando com ele, deixando ele entrar quase na boceta e depois tirando, usando ele para meu próprio prazer. Ele pareceu se estimular, ou percebeu o desafio contido naquele gesto, porque partiu para a ação. Sob seu comando escorregamos para o chão do banheiro, sem nenhuma palavra, eu de joelhos, os braços apoiados na banheira, a bunda bem arrebitada, aguardando. Então ele meteu o pau, aquele pau delicioso, todo besuntado pelo gozo da minha buceta. Ele meteu atrás, com cuidado, no meu rabo que ele já tinha preparado, aproveitando cada centímetro, usando as mãos para me excitar mais ainda, no corpo, no peito, em todo lugar. Ele parecia ter me envolvido totalmente, e o que eu sentia era tão intenso que já não podia reagir àquela sensação esquisita e dominadora. Aquela era a sujeição total, eu sabia, e somente me entregando totalmente eu poderia chegar ao fim. Era uma escolha. Ele cada vez mais no controle, dá uma metida forte, e eu grito de prazer e dor, rompendo de vez o silencio. O meu orgasmo chega lento, forte, mas não vai embora, fica pairando como uma sensação de gozo constante, e não consigo parar de gritar, gemer e querer morrer com aquela sensação ao mesmo tempo deliciosa e insuportável.


Meu grito desperta algo nele, que se liberta da atitude controlada somente para se perder no imperativo biológico mais forte: o prazer. Finalmente entra em cena o felino que eu vi escondido atrás daqueles olhos verdes.


Ele mete com forca de novo, e ainda mais uma vez, mordendo meu pescoço como o animal que é, gozando dentro de mim, e o meu orgasmo finalmente acaba com uma explosão.









Passamos dias juntos, trepando, parando para comer e para dar rápidas caminhadas, voltando correndo para a cama ou fazendo no mato mesmo, no meio do capim, sem pudor. Fizemos sexo carinhoso e violento, lento ou rápido e animalesco, de frente, de trás, de quatro. Ele me ensinou sensações deliciosas e eu retribui com entusiasmo. Mas um dia ele teve que ir. Eu também precisava continuar minha peregrinação para lugar nenhum. Partimos no carro já reparado e ele me deixou na próxima estação de trem. Nos despedimos em silencio, como sempre foi nossa amizade.

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