sábado, 18 de abril de 2015

O Editor – último encontro


Recebi um embrulho direto no meu quartinho/banheiro. Era engraçado receber correspondência, pois somente quem sabe que eu estou aqui mora aqui. Um alarme se acendeu: Andei tendo que usar o cartão para sacar dinheiro, e mesmo tendo feito isso em um local distante, outro país, na verdade, os meus perseguidores poderiam ter me localizado.
Enfim, o pacote que eu recebi: Uma edição novíssima da coleção XXXXX da editora XXXXX, contendo o conto A sereia. Sem nenhuma dedicatória, ou mesmo remetente,  somente embalado em uma belíssima echarpe de seda.

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O Editor – último encontro

Cheguei, anunciada, mais uma vez à suíte do Editor. Era inverno, mas o interior do prédio estava agradavelmente morno, o que me permitiu tirar a camada de roupas interiores que carregava e enfiar na minha maletinha. Fiquei somente com o casaco longo e pesado de inverno e, embaixo dele um vestidinho que era mais uma combinação, sem calcinha. Sobre ele, a bela echarpe de seda estampada de motivos exóticos, belíssima, que recebi por correio.
O combinado era eu apresentar um novo conto, que trouxe impresso em folhas soltas. A narrativa acontecia no mesmo universo do anterior, uma coisa meio roça meio praia, muito familiar para mim mas exótica para aquele cara urbano europeu.
Ele estava sentado no sofá dessa vez, meio fora do peso como convém a um intelectual, a barriga querendo se pronunciar com a chegada da idade. No mais, a mesma barba desfeita, o cabelo engraçado e o Marlboro sempre a mão. O prosecco já estava servido. O Editor me olhava com uma cara de curiosidade, um jeito safadinho.
O conto de hoje exige outra locação, eu disse. Seus olhos brilham; ele sabe que hoje vai ter o que merece, porque hoje é ELE quem vai ler o conto. Tomo a taça inteira de uma vez, sem tempo para me embebedar, e levo o cara para a cama, tirando antes a camisa dele.
Pego a echarpe que ele me deu, linda, sedosa, mas muito mais resistente que a outra, e amarro no seu pulso. Ele está complacente e totalmente resignado com o que vou fazer. Passo a seda da echarpe pela cabeceira da cama, dou uma volta para ficar firme e arremato. Ele testa o nó e dá um aceno de aprovação.  Na outra mão coloco as folhas de papel contendo meu conto. Ele começa imediatamente a ler:

Estela e o Sol
Todo verão eu passava na fazenda do meu pai. Era um lugar aconchegante, embora sem os confortos da cidade grande, que nos ensinava o que era verdadeiramente essencial. Uma piscina quase natural, feita com pedras e ‘agua corrente, nos refrescava, e não tão longe, a talvez uma hora de cavalgada, estava o mar, um mar bravo, selvagem, uma aventura.
Na fazenda eu aprendi a comer mandioca com manteiga no café e bolinho de chuva à tarde, independente do clima. À noite os pais tomavam sua cachacinha nos chupávamos um pedaço de cana, purinha, delicia! A rapadura, o doce de leite, as cavalgadas diárias, a gigantesca vitrola cujo radio pegava estações exóticas em ondas curtas, as mangueiras imensas, tudo me encantava.

Naquele ano, no entanto, tudo estava diferente. Na verdade tudo estava igual, eu estava diferente. Me recolhia nos meus livros, meus diários, minha música portátil. Só saía do quarto para tomar um banho refrescante na piscina, na hora do almoço, quando ninguém estava. Aquilo me abria o apetite, que em outros momentos era nulo. Então ia comer um pouco de carne de lata com cuscuz, com mandioca, com arroz, quando entreouvia na cozinha os comentários: “é coisa da idade”.
E era mesmo. Sentia uma ansiedade constante, um incomodo que torcia minhas entranhas , um escorpião que me picava o ventre, um vazio no peito que tornava a respiração difícil, tudo isso eu escrevia no meu diário, tentando entender o que faltava. Aguardava ansiosa a vida acontecer. Recentemente uma dorzinha chata no baixo ventre começou a me incomodar, e me fazia ficar deitada o dia inteiro, se somando às minhas outras mazelas e achaques.







O Editor esta então deitado de costas atravessado na cama, um braço preso na cabeceira, o joelho dobrado com as pernas para fora, totalmente disponível para mim, e eu estava ficando já excitada e ansiosa, com vontade.  Mas mantive a calma e terminei de tirar as roupas dele, não deixei uma peça. Ele tinha um corpo forte, com uma camadinha extra de gordura e uns pelos castanho-claros, bem distribuídos, que apreciei com os olhos e as mãos. O Caralho, por sua vez, era médio, mas muito grosso. Ele sabia disso, e usava aquele bastão para causar um efeito doloroso e dominador. Safado.







Então, dou um apertão na bundinha dura dele e mando continuar a ler.

Até que acabou a pilha.
Eram os anos oitenta, e a música portátil só era possível com pilhas e fitas K7. Nada de carregador, nada de downloads, nada. Acabou a pilha, acabou a música, e sem música era impossível.
Acordei cedinho e fui buscar o cavalo para ir até a cidadezinha. Dessa forma, podia ir sozinha e aproveitar para dar uma volta no diminuto comércio local, comprar uns doces, umas revistas, comer um hambúrguer, gastar um pouco da mesada. Não ia ser de todo mal.
Fui ao estabulo pedir para selarem um cavalo para mim. Escolhia a égua Selina, minha favorita, bela e altiva, embora não tão mansa quanto se esperaria de uma égua de transporte. Ela tinha em si a selvageria dos cavalos livres, ainda que domada. Quem estava lá era o menino novo, que chamavam de Sol. Tudo que eu sabia dele ‘e que estava trabalhando aqui durante o verão, mas estudava na escola da cidadezinha. Ele sela a égua Selina e vem me ajudar a monta-la. Resisto, mas ele insiste, é o seu trabalho, afinal.
Coloco meu pé no estribo, experiente, e levanto a outra perna, girando, num movimento amplo demais, para mostrar que não precisava de ajuda. Mas me enrolo na minha demonstração, o pé escorrega do estribo e eu perco o equilíbrio, ralando o joelho no metal. Mas não caio: Sol, que estava me ajudando, me segura pela perna e me deixa escorregar devagarinho até o chão.
Nesse movimento Sol me segura bem firme contra o seu corpo, e, talvez sem querer, escorrega a mão para baixo da minha saia, curta e larguinha. Por um segundo ele toca minha xana e eu sinto o que me parece um choque elétrico.
Ele parece que sente também, estremece, mas não tira o dedo, esfrega ele bem de leve sobre a calcinha. Então despertamos e nos afastamos, constrangidos.

Continuo as ações automaticamente, mas não penso em mais nada. A doença que me afligia acabou de alcançar um novo patamar, me deixando totalmente desnorteada. Sol então me ajuda a subir na égua, vê que eu ralei o joelho e se alarma! Reage automaticamente como fazem as crianças e os animais, e lambe o meu ferimento. Depois percebe o que fez e se retira, envergonhado, não sem antes dar uma tapinha firme na anca da égua Selina, que sai em um trote leve.

Enquanto a narrativa flui, me fixo no desafio a frente. Afasto um pouco as pernas do Editor e me ajoelho bem na frente do pau dele.  Ele já está excitado, claro, as veias começando a saltar, aquele pau começando a se manifestar, agressivo. Os pelos grossos castanho-aloirados cobrem totalmente a base, de dando um campo delicioso para afagar e segurar. Começo com as bolas, no entanto, beijando de leve cada uma, chupando a pele e depois mantendo uma mão massageando-as com cuidado, delicadas que são. Mas o que me importa mesmo e aquele pau cada vez mais grosso, tão cheio de sangue que parece explodir. Abocanho ele duma vez, ele enche minha boca. Começo, então, o já conhecido movimento; Lambo bastante para ele ficar bem lubrificado e chupo bem, amaciando com a língua, metendo e tirando, e ele continua lá, firme, lendo meu conto com o inglês empolado e carregado de sotaque belga. O editor se mostra bastante resistente à minha tortura deliciosa...a princípio.
A égua trota, em seu próprio ritmo, e eu me perco. Penso No corpo de Sol, moreno, dourado, músculos naturalmente tonificados pelo trabalho braçal. Nada daqueles ratos de academia do meu colégio, artificiais, desproporcionais.  Penso que ele tinha um cheiro de suor limpo, era de manhã ainda, mas já se pronunciava um cheiro adocicado e forte que me perturbava. O peito sem camisa, musculoso e sem nenhum pelo, jovem que era. A lambida que ele deu no meu joelho, espontânea e passional, e principalmente o dedinho invasor dele l’a, debaixo da minha saia.
O trote de Selina se intensifica e sinto o roçar firme do couro da sela lá embaixo, bem onde Sol tocou sem querer. Da ponta dos meus pes, sinto que o sangue ferve. A Sensação vem subindo, subindo, enquanto Selina trota com mais rapidez . E toda ansiedade que sinto, a dor, o escorpião que me pica o ventre constantemente, tudo se mistura e se localiza lá, num pontinho dentro da minha xana, quase peladinha, somente protegida do contato da sela por uma calcinha de algodão fino, que eu afasto para sentir mais o couro moreno e pensar em Sol.

O editor estava resistindo bem ao meu boquete, então elevo um pouco a minha técnica, para deixa-la memorável. Pego uma das camisinhas bem lubrificadas que sempre trago comigo, just in case...  e recomeço a chupar o pau, mas desta vez enfio o meu dedinho indicador, de unhas vermelhas e curtas, com cuidado dentro dele. Uso a camisinha no dedo para deixar tudo bem lubrificado. Ele se remexe, meio alarmado, esquece que estah amarrado e tenta mexer a mão, tentando reagir.  Vejo que não ‘e uma pratica usual para o Editor, adepto que um sexo mais simples, dominador e selvagem.  Olho para ele com o olhar divertido e a boca cheia. Mais uma vez ele aceita, com alguma indignação,  o que eu determino para ele. Dou um toque no maco de folhas: Continue!

Com o chicote, dou um toque leve na anca de Selina, que entende o recado e começa a trotar cada vez mais rápido, e finalmente corre, enquanto eu, trepada na sela dela, me movimento pra frente e pra trás, pensando em Sol. A sensação toda, então localizada naquele ponto, explode de uma vez, num choque elétrico delicioso como nunca tinha sentido, atingindo todo o corpo e apagando minha mente por um segundo. O sol, já intenso, aparece atrás de uma arvore e me cega, fazendo com que perca o controle de Selina, que nunca tive, na verdade. Saímos da estrada e eu caio protegida pelo capim fofinho, com as pernas e braços abertos, olhando para o sol e morrendo de rir, sentindo as pequenas gotinhas de felicidade que ainda circulam no meu sangue curando  minhas mazelas.
Selina, fiel, fica por ali, pastando, suada e cansada também da nossa peripécia.


Ouvindo a parte mais quente da narrativa, movo o dedo em círculos, massageando bem, bastante ritmado com a chupada. O editor, titubeante, começa a dar mostras de não conseguir mais manter a sua leitura. Então, com jeitinho, coloco o dedo do meio junto do outro e enfio os dois, com mais forca agora, e mexo bem gostoso lá dentro no lugar que eu sei que dá mais liga, causando a reação tão esperada. Ele solta as folhas e segura meus cabelos com a mão esquerda livre, abrindo um pouco mais as pernas e se posicionando, mexendo no ritmo da minha chupada e da massagem dos meus dedinhos, pronto para o orgasmo.
Não vai demorar muito agora, mas ele mais uma vez mostra uma resistência fora do comum: Levanta meu rosto e me olha bem no olho, brilhante de tesão, mas um pouco solitário, e com esse olhar eu entendo que este momento é de nos dois, juntos e não apartados assim, torturadora-torturado. Percebo que a brincadeira foi muito divertida, mas solitária, e que merecemos, ambos, alguma redenção.
Rapidamente tiro tudo, camisinha, combinação, qualquer coisa que possa ficar no caminho, e  jogo longe. Subo em cima dele, apoiada nas pernas dobradas e meto o pau dele, aquele pau grosso demais dentro da minha buceta, bem devagar para ela ir alargando, e depois uma metida profunda, intensa e dolorosa, para começar a ser fodida a sério. O Editor não me come, ele me fode, forte, mas com um carinho fora do comum. Me alongo e desamarro a mão dele, facilmente, desse nó que era apenas simbólico.
Ele se senta, livre, me abraça com forca, acaricia minhas costas, agarra meus cabelos, me posiciona bem agarradinha na frente dele. Me beija longamente no pescoço, me chupa, até me marca.  Nos mexemos juntinhos, no mesmo ritmo, e ele e goza finalmente, depois de tanta resistência.
Ficamos quietos por um segundo, abraçados, o pau dele ainda duro dentro de mim. Acho aquela posição uma delícia, uma posição sem vencedores, somente olhos e bocas no mesmo nível. Não é uma posição para estranhos e casuais. Naquele momento nos emaranhamos para sempre.
Mexo meus músculos lá dentro pra sentir bem aquele pau, eu ainda cheia de tesão, sem conclusão.  Minha boceta se move sozinha, pressionando o caralho com sua musculatura, esmagando, acordando ele. Os olhos do Editor brilham de novo, e ele recomeça o movimento do quadril. Ele mete o dedo polegar na minha boca e eu chupo, sem saber a verdadeira intenção desse gesto: descendo a mão até o meu ventre, ele mete o mesmo polegar, molhadinho, entre os grandes lábios, bem naquele pontinho que ele sabe ser o mais sensível de todos. O editor, antes de tudo, era um explorador, e dedicou muita atenção a conhecer minha buceta.
Foi demais para mim: tive um orgasmo explosivo, que continuou em vagas como uma convulsão, um orgasmo que estava contido este tempo todo. Ele continua me fodendo, me abraçando com forca, e logo goza de novo, dessa vez gerando um único urro de alivio.
Ficamos ali os dois juntos, exaustos, um tempao. Mas dessa vez, não dormimos, pois eu li a conclusão da história que tanto o atraíra.
Eventualmente, um caboclo me encontra e dá o alarme, que dona Estelinha está caída no chão, sangrando e chorando. Minha aparência estava péssima. Além da sujeira, o suor e os ferimentos, pelas minhas pernas escorria suor e gozo, que eu não conhecia, e o sangue que chegou para sinalizar que tudo mudaria, que eu era uma mulher agora.
 Logo um exército aparece para me buscar, liderado pelo meu pai, caboclo forte que se deu bem na cidade, mas ainda tem em si a marca do interior. Médico, ele me avaliou e concluiu que eu só tinha ferimentos leves e escoriações, mas recomendou repouso. No mais, tinha tido o meu primeiro sangue, o que valeu as comemorações das mulheres na casa. O meu jeito amuado, ensimesmado, como elas diziam, agora estava explicado. Me trouxeram doces, revistas, artigos femininos e as tão necessitadas pilhas, e ainda por cima de deixaram repousar em paz para pensar em Sol. 
Fiquei três dias em repouso, boba de felicidade. E quando o escorpião começou a picar de novo, novamente fui procura-lo. Mas esta já é outra história.


Quanto ao Editor, não o vi mais pessoalmente. Os acontecimentos se interpuseram no caminho, e meu destino se desviou. Mas eu penso muito no seu jeito incongruente, tão gentil e brutal, que em outras circunstancias teria me cativado incondicionalmente.  E ainda o envio meus contos, escritos à mão, sempre. Ele, por sua vez, os edita em suas coletâneas, mandando o impresso enrolado em um lenço, xale ou echarpe cada vez mais bela e exótica, acompanhada de um cartão postal de algum lugar estranho, dizendo sempre a mesma coisa: Mais uma vez suas palavras me invadem. Um beijo.
Da última vez ele mandou uma edição especial: The Veridian Files, uma coletânea de tudo que já publiquei com ele, em uma edição luxuosa, de colecionador, como costumávamos fazer antigamente na nossa gráfica alternativa. Dentro, uma dedicatória:

Multiverso: a ideia de que existem infindáveis universos que surgem e se desintegram, e que cada decisão nossa faz "brotar" realidades paralelas do que poderia ter sido. Em muitos deles, eu nunca teria nascido. Em outros nós nunca teríamos nos encontrado. Mas talvez em um deles tivéssemos nos conhecido em outras condições, em outra vida. Às vezes gostaria de ter vivido outra vida.
Nesta realidade, só um silêncio, das fotos nunca tiradas, o silêncio de cartas antigas nunca enviadas, nunca escritas, das certezas compartilhadas mas nunca verbalizadas. Um não saber o que dizer.

No entanto, naquele universo alternativo que tanto desejo, eu te amo. Luc.





O editor



O editor morava e trabalhava no andar alto de um hotel. Chego, já tendo sido anunciada, e a porta já estava entreaberta. Procuro então na saleta, dentro do quarto, passo meus olhos pelo espaço procurando viva alma, e vejo alguém encostado na sacada, escondido pela cortina. O editor fumava Marlboro. Tinha cabelos meio longos, meio soltos e meio presos pra trás, na altura do topo. Um jeito engraçado de se usar os cabelos. Ele tinha uma barba totalmente mal feita, caótica e desregrada, onde se escondia uma pele clara e uma boquinha muito beijável. Mais tarde percebi que ele tinha olhos claros, mas naquele ponto, a noite, achei que fossem totalmente sombrios, escuros. Ele estava de preto, é claro, mas nada elegante, uma camiseta nojenta de videogame que parecia ter vivido a época do ATARI. Talvez tivesse.
O cara tinha olhos intensos, mas era difícil encara-lo. Ele, arisco, indócil, e eu , ainda meio tímida, não conseguia cruzar os olhos com esta pessoa. Mas por outro lado, em suas acoes ele  era gentil e cortês. Uma incoerência. Eu, totalmente sem rigores, cognivamente prejudicada e desinibida por um coagulo cerebral perfeitamente operável, já não julgava mais as pessoas. Elas são um poço de incongruência, e desembaraçar estes nós que são suas personalidades é parte do prazer de conhecer pessoas. Fio por fio, conhece-se alguém. E depois de totalmente liso e fluido, um daqueles  fios faz parte de você para sempre, de seu próprio emaranhado de personalidade.
Chegando na essência da questão, sem enrolar-me demais nos fios daquela personalidade, o editor tinha sim uma cara de safado. Eu sei quando um cara é safado, simplesmente sei, vejo nos olhos, nos cabelos, no sorriso. 
 Mantendo minha taça constantemente cheia de um prosecco muito bom, que descia bem demais para a minha própria sanidade, o editor começa a falar da proposta da pequena editora para a qual trabalhava. Ela era uma sucursal de uma editora maior que usava um nome especial e uma linha editorial voltada para a edição de novos autores. Buscavam contos para uma coletânea erótica que fariam, mas o importante, frisava sempre, era o rigor literário. A temática erótica não podia sobrepujar a qualidade poética, literária, autoreferencial da linguagem. Ele falava tao bem de literatura, de miller, Nin e de outros que eu não conhecia, nomes importantes da literatura erótica feminina no Brasil, pra mostrar que fez seu dever de casa.
E eu, bêbada. Tenho a cabecinha desse tamaninho. Entrei no modo automático de responder tudo com um movimento de aprovação. Para demonstrar minha atenção no que ele dizia, olhava para a boca, aquela boquinha que só posso descrever como chupadora de grelinhos.
Ok, estava bêbada. Então ele finalmente indica que quer o meu material. Ok. Estava tudo aqui, sem problemas. OK. Ana tinha tudo impresso e encadernado. Ana, que faz tudo com tanto cuidado e nunca fica bêbada e sorri, sapeca. Ok. Entreguei o original.
Foi ai que me enrolei de vez nos fios daquela personalidade safada, porque ele disse: Não, eu quero que você leia para mim. Danou-se. Ok.
Sentei no sofá, apoiei os pés na mesinha da frente, sem modos, e comecei a ler:

A sereia.
Um dia , conheci uma sereia. Maritima, adamascada, brilhante, sim, uma sereia. Não é lenda de pescador, não senhor. Furta-cor como escamas, mas macia como uma menina impúbere. Olhos profundos de madrepérola.
Pois bem, a história é a seguinte: Encontrei esta menina em um dos meus retornos do mar. Sentadinha, com um vestidinho de algodão, uma maleta sobre os joelhos. Sim, ela tinha joelhos. Pois a menina parecia tão perdida, tadinha, um ar crepuscular, triste. Parecia esperar um ônibus que nunca viria, sentada naquele banco de madeira tosca, no meio do pó. A menina tinha os olhos baços como de um peixe doente. Mas era bonita que só, imagina!
Levei ela pra casa, ela só seguiu, subordinada. Parece que já tinha feito isso antes, essa coisa de seguir homem, sem ter pra onde ir. Mas não era puta não, viu? Levei ela com a melhor das boas intenções, para dar um cantinho pra moça dormir, um caldo de peixe, uma farinha, um café.
E assim eu fiz, eu dei pra ela caldo de peixe, farinha e café. O caldo ela cuspiu com nojo, a farinha comeu avidamente e o café só bicou, curiosa. Pois a menina era muito linda, sabe, mas me controlei, respeitei  e fui dormir, que eu tenho mãe e tenho irmã, e um dia vou ter mulher e filha. Mas me revirei na cama, desonado, mais de meia hora, e numa dessas viradas ela tava lá, me olhando com aqueles olhos baços de peixe, como se tivesse sido pega na minha rede. Estendi a mão e ela veio para minha cama, como que mais por automático que vontade, mas bem, se ela queria, quem sou eu de recusar?
Olha, ela ficou ali quietinha, deitada de olhos abertos enquanto eu fazia das minhas. Não sou homem desesperenciado não, já tive mulher certa, já tive puta, já tive moça da cidade, já tive dona safada daqui mesmo. Mas com essa moça não tinha historia. Tentei beijar, tentei chupar o diabo da flor dela por meia hora, e ela nem um pio. No final, terminei minhas porcarias de qualquer jeito ali, nas coxas dela, para não pegar menino, e dormimos ali mesmo.

Parei de ler por um segundo, para pegar folego. Estava ficando difícil a leitura. Acontece que o editor vinha me beijando, as vezes lambendo, as vezes mordendo, já havia alguns minutos. Tinha começado no meu pé que estava apoiado na mesa e foi subindo pela perna, devagarinho, e já estava lá,com a cabeça dentro das coxas, nesse momento dando uma mordidinha naquela curvinha da bunda, que eu não sei como chama. Já já, esquivo e rápido, estava na boceta, afastando a calcinha cor de vinho e explorando o que tinha pela frente.  Parecia interessado, apesar de minha boceta não ser nenhum flor carnívora exótica, só uma bocetinha cheinha, fechadinha, com lábios curtos e um clitóris safadinho, escondido por um capuz.  Faminta e delicadinha. Fechada com Como uma noz, como disse Caminha sobre as bocetas das indígenas.
Enfim, a tal da bocetinha já estava se animando, bêbada que estava. E eu comecei a respirar mais rápido, mas ele disse:
‘Linda, continua a ler, vai?’
‘O-K”
                       
                        (Continuando)
                        Enfim, a menina não tinha pra onde ir, não tinha documento, nada. Eu perguntava e ela dizia coisa com coisa, de que vinha da casa do pai e pra lá voltaria, mas só  quando as ondas da mare viessem , e ela já tentou de todo jeito, mas não consegue ondear jeito nenhum. Cheguei a leva-la a autoridade local, seu delegado, meu amigo, que também não entendeu coisa com coisa e disse: Fica com ela, que é o melhor que cê faz. Se deixar uma coisa bonita dessas aí na rua é pior pra ela. Vai virar puta na certa!
Na noite seguinte, depois de comer farinha com café, fomos dormir, cada um no seu cantinho. Meu catre era desconfortável mas era grande, como cabe a um solteiro, e o dela era uma caminha no quartinho do lado. Tudo bem separadinho. Vai
Não é  que a menina, na mesma hora de ontem, me aparece com aqueles olhões abertos, e dessa vez não quer saber de enrolação. Sobe em cima de mim para “fazer ondinha.” Ela me cavalga, pra frente e pra trás, se esfregando, esfregando, num ritmo constante. Mas não sabia o que fazer depois disso. Eu tirei a calcinha dela, o sutiazinho, tirei o meu pau e enfiei no meio dela, e falei: Cavalga mais, minina, vamos fazer uma ondona. Ela diz que não, quer fazer um montão de ondinha para pode voltar para casa. Mas obedece e me cavalga, cavalga, tenaz, como uma amazona. Acabo gozando, como antes, dentro dos lábios dela, sem entrar nenhuma vez na intimidade.
 Luna, como eu comecei a chama-la, todo dia vinha me visitar e sabe, todo dia eu ensinava uma coisinha para a moça. Pegava no peitinho, ensinava a morder, a lamber, e ela aprendia bem, louca para fazer ondinhas, mas ela mesma nunca soltou um suspiro sequer, um ai de prazer, muito menos um ai meu deus nossa senhora, jesus, maria , josé,  como minha namorada, a Lena, fazia. A Lena, alias, tava com raiva: queria aquela magrela pra fora imediatamente, ela dizia, estudada que era!
Todo dia era a mesma escolinha. Eu ensinava as coisas para ela , de frente e de traz, invertido, de todo jeito, menos lá no buraquinho, que eu tinha sentido que era virgenzinho. Eu lá vou tirar o selo de uma menina que nem sei quem era?
Mas olha, todo dia eu tentava, e nada de “Ai meu deus.”
No fim de semana era o dia de sair com a Lena. Deixei a Luna lá com sua farinha e seu cafezinho e suas ondinhas e fui me divertir. Entretantos, estava meio borocochô, meio amuado. Lena percebeu que minha benga não queria mais, depois de umazinha já cedeu, bisonha. Então, Mulher esperta que era, entendeu que o caralho quer o que o caralho quer, e nesse caso ele  tava querendo era a magrela, a Luna. E ficou com raiva, vermelha, resfolegante. Lena me botou pra fora sem pestanejar, e disse que só voltasse quando tivesse resolvido a questão. Sem argumento. Lena era Braba!
Mas vou dizer uma coisa, eu gostava da tal da Lena. Eu pensava ate em casar, um dia, ou amasiar mesmo, e ter uns mulequinho.  Fiquei chateado. Fui tomar uma cachacinha e acabei tomando a garrafa toda. O povo do bar só ajudava, me dava cerveja para gelar a goela, enciumado que estava das minhas aventuras com duas mulheres tão jeitosas ao mesmo tempo. Eu, que não era nenhum artista de cinema, nem um tarcisio meira, nada disso. Era só um caboco com o peito cheio e a jeba forte. Enfim...

 Estava difícil de continuar lendo. O editor já estava me chupando dedicadamente há vários minutos,  aquela boquinha que eu sabia ser ótima já estava sugando, sugando, com se eu tivesse leite, como se eu pudesse alimenta-lo com o meu gozo. Sinto a barba grossa dele roçando na bunda, nos lábios. Eu já começava a sacudir, tremer por dentro, e parei de ler por pura incapacidade. Mas não, ele queria até o fim, pois intuía que o final traria muito tesão para ele, que adorava uma mulher falando putarias cultas. Cada um com seu cada qual, né?
Entao ele, teimoso, para de chupar e vem beijar meus peitos com aquela barba toda gozada. Ele pede, quase ronronando, todo dengoso, para eu continuar a ler, que ele estava explodindo de curiosidade e tesão. Continua deitado, brincando com meu corpo, me estimulando de leve para eu ficar naquela situação de “quase” constante e ainda pudesse ler o meu conto. Continuo:
Não voltei para casa. Fiquei deitado na praia, olhando as estrelas e a Luna, pensando em Lena e Luna. Cochilei. Mas o chão de areia era mais desconfortável do que minha cama de solteiro, e acabei abrindo fininho os olhos, meio dormindo, e vi o céu, as estrelas, a lua e a Luna. Os olhões madrepérola de Luna. Não tive reação: Luna partiu para acima de mim como quem monta um cavalo, com força, determinada. Começa então seu movimento dos quadris, para frente e para trás, esfregando meu pau, o seu fazer de ondas. Continuamos nisso por tanto tempo, nem sei quanto, por causa das cachaças, das cervejas , da lua e da Luna ali em cima de mim, me deixando cada vez mais perdido. Então ela mesma pega o caralho e enfia lá dentro, gemendo de dor, mas enfia mesmo assim, com tudo. Ela era apertada demais, virgem que era. Meu pau ia desbravando aquela carne firme, invadindo a menina, que sentia dor mas também sentia prazer, dessa vez eu via, e ficamos tanto tempo nesta coisa de ir e voltar, nesse cavalgar, que a mare começou a subir e molhar meus dedos, meus pés, e quando vi a agua já estava chegando a altura do peito, e ela continuava me cavalgando, me comendo com a boceta ex-virgem dela.
Não sei como ela conseguiu me segurar tanto tempo, eu pra falar verdade mal lembro da coerência das coisas, bebim que tava, e ela me deixava mais doido e mariado ainda. Olha, eu lembro das estrelas, das luzes e dos olhos de luna, brilhando enquanto ela sentia o primeiro gozo chegar com a onda, e eu, não sei se é doidera ou não, mas eu sentia com ela, tudo que ela sentia eu sentia, um gozo atrás do outro, em cima do outro, como as ondas. Ela era uma eletricidade dentro da agua, me passando um choque a cada movimento. Nunca vi alguém gozar desse jeito, tantas vezes, uma em cima da outra, e me passando tudo, e eu achando que ela ia me matar ali, eu juro.
No fim ela me olha, me da um beijo que eu sei que é de adeus, conheço. Ela chora uma lagriminha só, contida que era, e diz que as ondinhas vieram buscar ela. Só vejo ela entrando no mar e saltando como uma nadadora, brilhante como a lua, dum brilho furta-cor de escamas, de outro mundo.  Desmaio de cansaço e cachaça.

“The end”, eu disse. Então ele, satisfeito de literatura e faminto de sexo, vem pra cima de mim, beija minha boca pela primeira vez, e  me tira daquele transe semi-sexual no qual me manteve com sua chupada e suas carícias levíssimas. Me beija na boca com um a língua voraz, firme e violenta, me chupa com força, e eu retribuo em um beijo selvagem. Ao mesmo tempo, me masturba com a mão inteira, esfregando com força o clitóris ao mesmo tempo que enfia os dedos na boceta, ritmado com seu beijo, como se fossem as ondas que recentemente deixaram ele tão excitado. Ele já estava pronto, duríssimo, claro. Senti o pau dele na minha perna, chegando, me ameaçando, tentando achar a entrada. Nos caímos do sofá e deitamos ali no chão, no tapete fofo do hotel, ele segurando minhas mãos para cima, dominador, enquando seu pau encontra sozinho o caminho. Entao ele me olha como quem tem uma ideia.
Pega a echarpe que eu sempre uso, nem sei porque, amarra meus pulsos juntos e segura com força, com uma mao só, enquanto a outra mao fica livre para me usar. Desce a mao livre, deixa o pau bem posicionado,bem na entradinha, e vai até a bunda, que agarra com força, para dar firmeza para a metida que ele finalmente vai dar, de uma vez, até o fundo da minha buceta; Eu grito, grito muito, nem sei porque, se é pelo pau grossíssimo dele me arrebentando, se é porque eu adoro gritar e gozar, mas enfim, enquanto eu grito, meu orgasmo chega, não em ondas, mas de uma vez, e ele continua metendo, até que ele grita também e colapsa.
Deitamos de volta no sofá, não antes dele livrar minhas mãos da echarpe fina de seda, agora em farrapos. Eu amarro minha echarpe no pescoço dele com um nozinho, um souvenir, e deitamos abraçados, destruídos demais para ousar outra rodada, mas satisfeitos. O editor me acaricia, gentil e incoerente, até que dormimos exaustos.
Acordo logo, arranco as páginas do conto “A sereia” do meu portifolio encadernado, e com a canetinha de revisor dele Assino V. e um beijinho :*. Depois circulo o ultimo paragrafo, o fim da historia que ele não ouviu, que eu não consegui contar.:

Pois depois que a sereia, a Luna, passou pela minha vida, nunca fui o mesmo. Procurava ela naquele banquinho todo dia, mas sabia de fato claro e evidente que ela não voltava jamais. E não voltou mesmo, até hoje. Lena nunca mais olhou na minha cara; foi viver a vida dela, ter os filhos delas e ate hoje não compra o peixe que trago, só de despeito.
Eu, que era homem contestador, de briga, nem discuto mais. Se é assim que ela quer, ela terá. Não levanto mais a voz, faço meu trabalho, tragos os meus peixes, que nunca foram tantos, e com eles faço meu pé de meia, vivo minha vida, sozinho.
Mas teve uma coisa que aconteceu, sim senhor, esses dias, e eu vi a intenção disso tudo. Eu vi que deus leva e traz de volta com o retorno da maré.  Pois quando eu voltei ontem do mar, uns cinco anos depois do ocorrido, vi um menininho sentado no mesmo lugar que um dia via a Luna, do mesmo jeitinho tenso, impirtigado, com a maleta em cima dos joelhos juntinhos. O mesmo olhar de peixe morto. Entendi tudo, pois ele tinha, por outro lado a pele bem morena e o cabelo liso da minha laia. Era meu menino.
Com a vozinha minúscula ele disse “minha mãe me fez nas ondinhas  e me mandou aqui para o senhor nunca ficar sozinho.  Meu nome é Sol.”