sábado, 18 de abril de 2015

O editor



O editor morava e trabalhava no andar alto de um hotel. Chego, já tendo sido anunciada, e a porta já estava entreaberta. Procuro então na saleta, dentro do quarto, passo meus olhos pelo espaço procurando viva alma, e vejo alguém encostado na sacada, escondido pela cortina. O editor fumava Marlboro. Tinha cabelos meio longos, meio soltos e meio presos pra trás, na altura do topo. Um jeito engraçado de se usar os cabelos. Ele tinha uma barba totalmente mal feita, caótica e desregrada, onde se escondia uma pele clara e uma boquinha muito beijável. Mais tarde percebi que ele tinha olhos claros, mas naquele ponto, a noite, achei que fossem totalmente sombrios, escuros. Ele estava de preto, é claro, mas nada elegante, uma camiseta nojenta de videogame que parecia ter vivido a época do ATARI. Talvez tivesse.
O cara tinha olhos intensos, mas era difícil encara-lo. Ele, arisco, indócil, e eu , ainda meio tímida, não conseguia cruzar os olhos com esta pessoa. Mas por outro lado, em suas acoes ele  era gentil e cortês. Uma incoerência. Eu, totalmente sem rigores, cognivamente prejudicada e desinibida por um coagulo cerebral perfeitamente operável, já não julgava mais as pessoas. Elas são um poço de incongruência, e desembaraçar estes nós que são suas personalidades é parte do prazer de conhecer pessoas. Fio por fio, conhece-se alguém. E depois de totalmente liso e fluido, um daqueles  fios faz parte de você para sempre, de seu próprio emaranhado de personalidade.
Chegando na essência da questão, sem enrolar-me demais nos fios daquela personalidade, o editor tinha sim uma cara de safado. Eu sei quando um cara é safado, simplesmente sei, vejo nos olhos, nos cabelos, no sorriso. 
 Mantendo minha taça constantemente cheia de um prosecco muito bom, que descia bem demais para a minha própria sanidade, o editor começa a falar da proposta da pequena editora para a qual trabalhava. Ela era uma sucursal de uma editora maior que usava um nome especial e uma linha editorial voltada para a edição de novos autores. Buscavam contos para uma coletânea erótica que fariam, mas o importante, frisava sempre, era o rigor literário. A temática erótica não podia sobrepujar a qualidade poética, literária, autoreferencial da linguagem. Ele falava tao bem de literatura, de miller, Nin e de outros que eu não conhecia, nomes importantes da literatura erótica feminina no Brasil, pra mostrar que fez seu dever de casa.
E eu, bêbada. Tenho a cabecinha desse tamaninho. Entrei no modo automático de responder tudo com um movimento de aprovação. Para demonstrar minha atenção no que ele dizia, olhava para a boca, aquela boquinha que só posso descrever como chupadora de grelinhos.
Ok, estava bêbada. Então ele finalmente indica que quer o meu material. Ok. Estava tudo aqui, sem problemas. OK. Ana tinha tudo impresso e encadernado. Ana, que faz tudo com tanto cuidado e nunca fica bêbada e sorri, sapeca. Ok. Entreguei o original.
Foi ai que me enrolei de vez nos fios daquela personalidade safada, porque ele disse: Não, eu quero que você leia para mim. Danou-se. Ok.
Sentei no sofá, apoiei os pés na mesinha da frente, sem modos, e comecei a ler:

A sereia.
Um dia , conheci uma sereia. Maritima, adamascada, brilhante, sim, uma sereia. Não é lenda de pescador, não senhor. Furta-cor como escamas, mas macia como uma menina impúbere. Olhos profundos de madrepérola.
Pois bem, a história é a seguinte: Encontrei esta menina em um dos meus retornos do mar. Sentadinha, com um vestidinho de algodão, uma maleta sobre os joelhos. Sim, ela tinha joelhos. Pois a menina parecia tão perdida, tadinha, um ar crepuscular, triste. Parecia esperar um ônibus que nunca viria, sentada naquele banco de madeira tosca, no meio do pó. A menina tinha os olhos baços como de um peixe doente. Mas era bonita que só, imagina!
Levei ela pra casa, ela só seguiu, subordinada. Parece que já tinha feito isso antes, essa coisa de seguir homem, sem ter pra onde ir. Mas não era puta não, viu? Levei ela com a melhor das boas intenções, para dar um cantinho pra moça dormir, um caldo de peixe, uma farinha, um café.
E assim eu fiz, eu dei pra ela caldo de peixe, farinha e café. O caldo ela cuspiu com nojo, a farinha comeu avidamente e o café só bicou, curiosa. Pois a menina era muito linda, sabe, mas me controlei, respeitei  e fui dormir, que eu tenho mãe e tenho irmã, e um dia vou ter mulher e filha. Mas me revirei na cama, desonado, mais de meia hora, e numa dessas viradas ela tava lá, me olhando com aqueles olhos baços de peixe, como se tivesse sido pega na minha rede. Estendi a mão e ela veio para minha cama, como que mais por automático que vontade, mas bem, se ela queria, quem sou eu de recusar?
Olha, ela ficou ali quietinha, deitada de olhos abertos enquanto eu fazia das minhas. Não sou homem desesperenciado não, já tive mulher certa, já tive puta, já tive moça da cidade, já tive dona safada daqui mesmo. Mas com essa moça não tinha historia. Tentei beijar, tentei chupar o diabo da flor dela por meia hora, e ela nem um pio. No final, terminei minhas porcarias de qualquer jeito ali, nas coxas dela, para não pegar menino, e dormimos ali mesmo.

Parei de ler por um segundo, para pegar folego. Estava ficando difícil a leitura. Acontece que o editor vinha me beijando, as vezes lambendo, as vezes mordendo, já havia alguns minutos. Tinha começado no meu pé que estava apoiado na mesa e foi subindo pela perna, devagarinho, e já estava lá,com a cabeça dentro das coxas, nesse momento dando uma mordidinha naquela curvinha da bunda, que eu não sei como chama. Já já, esquivo e rápido, estava na boceta, afastando a calcinha cor de vinho e explorando o que tinha pela frente.  Parecia interessado, apesar de minha boceta não ser nenhum flor carnívora exótica, só uma bocetinha cheinha, fechadinha, com lábios curtos e um clitóris safadinho, escondido por um capuz.  Faminta e delicadinha. Fechada com Como uma noz, como disse Caminha sobre as bocetas das indígenas.
Enfim, a tal da bocetinha já estava se animando, bêbada que estava. E eu comecei a respirar mais rápido, mas ele disse:
‘Linda, continua a ler, vai?’
‘O-K”
                       
                        (Continuando)
                        Enfim, a menina não tinha pra onde ir, não tinha documento, nada. Eu perguntava e ela dizia coisa com coisa, de que vinha da casa do pai e pra lá voltaria, mas só  quando as ondas da mare viessem , e ela já tentou de todo jeito, mas não consegue ondear jeito nenhum. Cheguei a leva-la a autoridade local, seu delegado, meu amigo, que também não entendeu coisa com coisa e disse: Fica com ela, que é o melhor que cê faz. Se deixar uma coisa bonita dessas aí na rua é pior pra ela. Vai virar puta na certa!
Na noite seguinte, depois de comer farinha com café, fomos dormir, cada um no seu cantinho. Meu catre era desconfortável mas era grande, como cabe a um solteiro, e o dela era uma caminha no quartinho do lado. Tudo bem separadinho. Vai
Não é  que a menina, na mesma hora de ontem, me aparece com aqueles olhões abertos, e dessa vez não quer saber de enrolação. Sobe em cima de mim para “fazer ondinha.” Ela me cavalga, pra frente e pra trás, se esfregando, esfregando, num ritmo constante. Mas não sabia o que fazer depois disso. Eu tirei a calcinha dela, o sutiazinho, tirei o meu pau e enfiei no meio dela, e falei: Cavalga mais, minina, vamos fazer uma ondona. Ela diz que não, quer fazer um montão de ondinha para pode voltar para casa. Mas obedece e me cavalga, cavalga, tenaz, como uma amazona. Acabo gozando, como antes, dentro dos lábios dela, sem entrar nenhuma vez na intimidade.
 Luna, como eu comecei a chama-la, todo dia vinha me visitar e sabe, todo dia eu ensinava uma coisinha para a moça. Pegava no peitinho, ensinava a morder, a lamber, e ela aprendia bem, louca para fazer ondinhas, mas ela mesma nunca soltou um suspiro sequer, um ai de prazer, muito menos um ai meu deus nossa senhora, jesus, maria , josé,  como minha namorada, a Lena, fazia. A Lena, alias, tava com raiva: queria aquela magrela pra fora imediatamente, ela dizia, estudada que era!
Todo dia era a mesma escolinha. Eu ensinava as coisas para ela , de frente e de traz, invertido, de todo jeito, menos lá no buraquinho, que eu tinha sentido que era virgenzinho. Eu lá vou tirar o selo de uma menina que nem sei quem era?
Mas olha, todo dia eu tentava, e nada de “Ai meu deus.”
No fim de semana era o dia de sair com a Lena. Deixei a Luna lá com sua farinha e seu cafezinho e suas ondinhas e fui me divertir. Entretantos, estava meio borocochô, meio amuado. Lena percebeu que minha benga não queria mais, depois de umazinha já cedeu, bisonha. Então, Mulher esperta que era, entendeu que o caralho quer o que o caralho quer, e nesse caso ele  tava querendo era a magrela, a Luna. E ficou com raiva, vermelha, resfolegante. Lena me botou pra fora sem pestanejar, e disse que só voltasse quando tivesse resolvido a questão. Sem argumento. Lena era Braba!
Mas vou dizer uma coisa, eu gostava da tal da Lena. Eu pensava ate em casar, um dia, ou amasiar mesmo, e ter uns mulequinho.  Fiquei chateado. Fui tomar uma cachacinha e acabei tomando a garrafa toda. O povo do bar só ajudava, me dava cerveja para gelar a goela, enciumado que estava das minhas aventuras com duas mulheres tão jeitosas ao mesmo tempo. Eu, que não era nenhum artista de cinema, nem um tarcisio meira, nada disso. Era só um caboco com o peito cheio e a jeba forte. Enfim...

 Estava difícil de continuar lendo. O editor já estava me chupando dedicadamente há vários minutos,  aquela boquinha que eu sabia ser ótima já estava sugando, sugando, com se eu tivesse leite, como se eu pudesse alimenta-lo com o meu gozo. Sinto a barba grossa dele roçando na bunda, nos lábios. Eu já começava a sacudir, tremer por dentro, e parei de ler por pura incapacidade. Mas não, ele queria até o fim, pois intuía que o final traria muito tesão para ele, que adorava uma mulher falando putarias cultas. Cada um com seu cada qual, né?
Entao ele, teimoso, para de chupar e vem beijar meus peitos com aquela barba toda gozada. Ele pede, quase ronronando, todo dengoso, para eu continuar a ler, que ele estava explodindo de curiosidade e tesão. Continua deitado, brincando com meu corpo, me estimulando de leve para eu ficar naquela situação de “quase” constante e ainda pudesse ler o meu conto. Continuo:
Não voltei para casa. Fiquei deitado na praia, olhando as estrelas e a Luna, pensando em Lena e Luna. Cochilei. Mas o chão de areia era mais desconfortável do que minha cama de solteiro, e acabei abrindo fininho os olhos, meio dormindo, e vi o céu, as estrelas, a lua e a Luna. Os olhões madrepérola de Luna. Não tive reação: Luna partiu para acima de mim como quem monta um cavalo, com força, determinada. Começa então seu movimento dos quadris, para frente e para trás, esfregando meu pau, o seu fazer de ondas. Continuamos nisso por tanto tempo, nem sei quanto, por causa das cachaças, das cervejas , da lua e da Luna ali em cima de mim, me deixando cada vez mais perdido. Então ela mesma pega o caralho e enfia lá dentro, gemendo de dor, mas enfia mesmo assim, com tudo. Ela era apertada demais, virgem que era. Meu pau ia desbravando aquela carne firme, invadindo a menina, que sentia dor mas também sentia prazer, dessa vez eu via, e ficamos tanto tempo nesta coisa de ir e voltar, nesse cavalgar, que a mare começou a subir e molhar meus dedos, meus pés, e quando vi a agua já estava chegando a altura do peito, e ela continuava me cavalgando, me comendo com a boceta ex-virgem dela.
Não sei como ela conseguiu me segurar tanto tempo, eu pra falar verdade mal lembro da coerência das coisas, bebim que tava, e ela me deixava mais doido e mariado ainda. Olha, eu lembro das estrelas, das luzes e dos olhos de luna, brilhando enquanto ela sentia o primeiro gozo chegar com a onda, e eu, não sei se é doidera ou não, mas eu sentia com ela, tudo que ela sentia eu sentia, um gozo atrás do outro, em cima do outro, como as ondas. Ela era uma eletricidade dentro da agua, me passando um choque a cada movimento. Nunca vi alguém gozar desse jeito, tantas vezes, uma em cima da outra, e me passando tudo, e eu achando que ela ia me matar ali, eu juro.
No fim ela me olha, me da um beijo que eu sei que é de adeus, conheço. Ela chora uma lagriminha só, contida que era, e diz que as ondinhas vieram buscar ela. Só vejo ela entrando no mar e saltando como uma nadadora, brilhante como a lua, dum brilho furta-cor de escamas, de outro mundo.  Desmaio de cansaço e cachaça.

“The end”, eu disse. Então ele, satisfeito de literatura e faminto de sexo, vem pra cima de mim, beija minha boca pela primeira vez, e  me tira daquele transe semi-sexual no qual me manteve com sua chupada e suas carícias levíssimas. Me beija na boca com um a língua voraz, firme e violenta, me chupa com força, e eu retribuo em um beijo selvagem. Ao mesmo tempo, me masturba com a mão inteira, esfregando com força o clitóris ao mesmo tempo que enfia os dedos na boceta, ritmado com seu beijo, como se fossem as ondas que recentemente deixaram ele tão excitado. Ele já estava pronto, duríssimo, claro. Senti o pau dele na minha perna, chegando, me ameaçando, tentando achar a entrada. Nos caímos do sofá e deitamos ali no chão, no tapete fofo do hotel, ele segurando minhas mãos para cima, dominador, enquando seu pau encontra sozinho o caminho. Entao ele me olha como quem tem uma ideia.
Pega a echarpe que eu sempre uso, nem sei porque, amarra meus pulsos juntos e segura com força, com uma mao só, enquanto a outra mao fica livre para me usar. Desce a mao livre, deixa o pau bem posicionado,bem na entradinha, e vai até a bunda, que agarra com força, para dar firmeza para a metida que ele finalmente vai dar, de uma vez, até o fundo da minha buceta; Eu grito, grito muito, nem sei porque, se é pelo pau grossíssimo dele me arrebentando, se é porque eu adoro gritar e gozar, mas enfim, enquanto eu grito, meu orgasmo chega, não em ondas, mas de uma vez, e ele continua metendo, até que ele grita também e colapsa.
Deitamos de volta no sofá, não antes dele livrar minhas mãos da echarpe fina de seda, agora em farrapos. Eu amarro minha echarpe no pescoço dele com um nozinho, um souvenir, e deitamos abraçados, destruídos demais para ousar outra rodada, mas satisfeitos. O editor me acaricia, gentil e incoerente, até que dormimos exaustos.
Acordo logo, arranco as páginas do conto “A sereia” do meu portifolio encadernado, e com a canetinha de revisor dele Assino V. e um beijinho :*. Depois circulo o ultimo paragrafo, o fim da historia que ele não ouviu, que eu não consegui contar.:

Pois depois que a sereia, a Luna, passou pela minha vida, nunca fui o mesmo. Procurava ela naquele banquinho todo dia, mas sabia de fato claro e evidente que ela não voltava jamais. E não voltou mesmo, até hoje. Lena nunca mais olhou na minha cara; foi viver a vida dela, ter os filhos delas e ate hoje não compra o peixe que trago, só de despeito.
Eu, que era homem contestador, de briga, nem discuto mais. Se é assim que ela quer, ela terá. Não levanto mais a voz, faço meu trabalho, tragos os meus peixes, que nunca foram tantos, e com eles faço meu pé de meia, vivo minha vida, sozinho.
Mas teve uma coisa que aconteceu, sim senhor, esses dias, e eu vi a intenção disso tudo. Eu vi que deus leva e traz de volta com o retorno da maré.  Pois quando eu voltei ontem do mar, uns cinco anos depois do ocorrido, vi um menininho sentado no mesmo lugar que um dia via a Luna, do mesmo jeitinho tenso, impirtigado, com a maleta em cima dos joelhos juntinhos. O mesmo olhar de peixe morto. Entendi tudo, pois ele tinha, por outro lado a pele bem morena e o cabelo liso da minha laia. Era meu menino.
Com a vozinha minúscula ele disse “minha mãe me fez nas ondinhas  e me mandou aqui para o senhor nunca ficar sozinho.  Meu nome é Sol.”



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